A Rainha do pop está entre nós.
Ou melhor, em terras brasilis, desfrutando a brisa que assanha os
cabelos das meninas e o corpo dos rapazes que circulam e mergulham e se bronzeiam
em Copacabana.
Ai de ti Copacabana, não serás mais a mesma
depois da passagem de Madonna.
Assim como não deve ter sido a mesma
depois que por ali passei, fotografando cada ladrilho do calçadão, cada folha
de coqueiro, cada prédio, cada bandeira a tremular sobre a areia. Inclusive, a
bandeira nacional, fincada no topo do Copacabana Palace, onde a diva
americana está hospedada.
Uma colega de ofício, que não é diva nem
rainha, muito pelo contrário, disse certa vez: “Um dia, vou me hospedar lá”. Suspendi
a redação do alvará, perguntei “lá em Copacabana?”. Ela tomou como ironia, franziu
o cenho, retrucou: “Claro que não. No Copacabana Palace. Você vai ver as fotos,
porque vou fazer questã de postar”. Tempos depois, vi: fotos
pavorosamente mal feitas, dela e do marido, ambos forçando um sorriso na beira
da piscina do hotel. Na repartição, o povo quis saber: será que o casamento dura
o tempo das parcelas do cartão? À boca pequena, se comentou que, além de ter
gasto os tubos com a festa do casório, ela pagou o dobro e mais um pouco para se
hospedar por uma noite apenas no Copa... Eu, discípulo de São Tomé, até
hoje não pus fé naquelas fotos.
Voltando à pop star: sei quase nada
sobre sua carreira. Da discografia, ainda menos. Mas, como fui criado com o
rádio ligado o dia inteiro na cozinha, trago na memória algumas de suas
canções. La Isla Bonita, Like a Prayer, Papa Don’t Preach e Crazy for
You rolaram bastante pelas ondas da Cultura. Hoje, quando as ouço, brotam
saudades que não sei bem explicar. Talvez, saudade da infância que se perdeu
nas brumas do tempo, da época em que minha única preocupação é se não faltaria
luz para assistir à novela... Na suíte presidencial do Copa, será que a Rainha
também se entrega a pensamentos nostálgicos?
O noticiário, que cobre a passagem de Madonna
desde que seu jatinho aterrou no Galeão no começo da semana, divulgou: durante
o show, telões enormes projetarão imagens de personalidades brasileiras. Acredito
que lá estará também Ayrton Senna: nesta semana, completam-se trinta anos do
desastre que ceifou sua vida. E a pergunta que muitos fizeram na tevê, num
esforço tolo de memória, é: o que você fazia naquele domingo quando o carro do
piloto colidiu com a barreira de concreto em Ímola? Eu, que nunca fui chegado à
fórmula 1 (aliás, a qualquer esporte), assistia desenho noutro canal, ou jogava
videogame. O que me lembro mesmo é que a televisão só falou da tragédia no
resto daquele dia, e no seguinte e nos seguintes. Na escola, na manhã de
segunda, só se falava nisso; teve até gente chorando durante a aula de Português.
Cena semelhante veria anos depois, quando do acidente com a Princesa Diana. Eu não
entendia aquelas lágrimas. E, sem entender, tentava vencer mais uma fase no meu
videogame.
Ali, nos arredores onde Madonna está
hospedada, há uma estátua do Senna. Bom turista, também tirei foto lá. Como
dizia aquela mulher da novela: cada mergulho é um flash... E como sob o sol
escaldante de Copacabana não é necessário flash para registrar boas fotos, o turista
se esbalda. Há aqueles que vão para torrar na areia, os que preferem observar
os minúsculos biquinis perdidos nas curvas bronzeadas, os que bebem como se não
houvesse amanhã... e os que fotografam. Ah, é há aqueles que gastam todas as
economias se hospedando em hotéis badalados, como a colega lá da repartição. Que,
como bem acertaram as previsões, não manteve o casamento tempo suficiente para
quitar as parcelas do cartão.
Texto: Raphael Cerqueira Silva
Foto: acervo do autor
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