sábado, 4 de maio de 2024

Madonna in Rio

 

 

        A Rainha do pop está entre nós. Ou melhor, em terras brasilis, desfrutando a brisa que assanha os cabelos das meninas e o corpo dos rapazes que circulam e mergulham e se bronzeiam em Copacabana.

        Ai de ti Copacabana, não serás mais a mesma depois da passagem de Madonna.

        Assim como não deve ter sido a mesma depois que por ali passei, fotografando cada ladrilho do calçadão, cada folha de coqueiro, cada prédio, cada bandeira a tremular sobre a areia. Inclusive, a bandeira nacional, fincada no topo do Copacabana Palace, onde a diva americana está hospedada.

        Uma colega de ofício, que não é diva nem rainha, muito pelo contrário, disse certa vez: “Um dia, vou me hospedar lá”. Suspendi a redação do alvará, perguntei “lá em Copacabana?”. Ela tomou como ironia, franziu o cenho, retrucou: “Claro que não. No Copacabana Palace. Você vai ver as fotos, porque vou fazer questã de postar”. Tempos depois, vi: fotos pavorosamente mal feitas, dela e do marido, ambos forçando um sorriso na beira da piscina do hotel. Na repartição, o povo quis saber: será que o casamento dura o tempo das parcelas do cartão? À boca pequena, se comentou que, além de ter gasto os tubos com a festa do casório, ela pagou o dobro e mais um pouco para se hospedar por uma noite apenas no Copa... Eu, discípulo de São Tomé, até hoje não pus fé naquelas fotos.

        Voltando à pop star: sei quase nada sobre sua carreira. Da discografia, ainda menos. Mas, como fui criado com o rádio ligado o dia inteiro na cozinha, trago na memória algumas de suas canções. La Isla Bonita, Like a Prayer, Papa Don’t Preach e Crazy for You rolaram bastante pelas ondas da Cultura. Hoje, quando as ouço, brotam saudades que não sei bem explicar. Talvez, saudade da infância que se perdeu nas brumas do tempo, da época em que minha única preocupação é se não faltaria luz para assistir à novela... Na suíte presidencial do Copa, será que a Rainha também se entrega a pensamentos nostálgicos?

        O noticiário, que cobre a passagem de Madonna desde que seu jatinho aterrou no Galeão no começo da semana, divulgou: durante o show, telões enormes projetarão imagens de personalidades brasileiras. Acredito que lá estará também Ayrton Senna: nesta semana, completam-se trinta anos do desastre que ceifou sua vida. E a pergunta que muitos fizeram na tevê, num esforço tolo de memória, é: o que você fazia naquele domingo quando o carro do piloto colidiu com a barreira de concreto em Ímola? Eu, que nunca fui chegado à fórmula 1 (aliás, a qualquer esporte), assistia desenho noutro canal, ou jogava videogame. O que me lembro mesmo é que a televisão só falou da tragédia no resto daquele dia, e no seguinte e nos seguintes. Na escola, na manhã de segunda, só se falava nisso; teve até gente chorando durante a aula de Português. Cena semelhante veria anos depois, quando do acidente com a Princesa Diana. Eu não entendia aquelas lágrimas. E, sem entender, tentava vencer mais uma fase no meu videogame.  

        Ali, nos arredores onde Madonna está hospedada, há uma estátua do Senna. Bom turista, também tirei foto lá. Como dizia aquela mulher da novela: cada mergulho é um flash... E como sob o sol escaldante de Copacabana não é necessário flash para registrar boas fotos, o turista se esbalda. Há aqueles que vão para torrar na areia, os que preferem observar os minúsculos biquinis perdidos nas curvas bronzeadas, os que bebem como se não houvesse amanhã... e os que fotografam. Ah, é há aqueles que gastam todas as economias se hospedando em hotéis badalados, como a colega lá da repartição. Que, como bem acertaram as previsões, não manteve o casamento tempo suficiente para quitar as parcelas do cartão.



Texto: Raphael Cerqueira Silva 

Foto: acervo do autor 

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