quinta-feira, 29 de abril de 2021

Os bem-te-vis

 

         Os bem-te-vis bailam ao sol, de lá pra cá, daqui pra lá, harmônicos como as notas de uma valsa. Vez em quando pousam no gramado do fórum para, em seguida, se dispersarem além do rio, nas ruínas da usina.

bem-te-vi... bem-te-vi... ecoa na sala esvaziada por decretos e portarias.

     Os bem-te-vis celebram o outono, indiferentes aos ofícios e alvarás que expeço como um autômato, ao telefone que macula a tarde com seu trim-trim triste.

 bem-te-vi... bem-te-vi... esbanjam o viver, despreocupados comigo que, largado na cadeira empoeirada, cantarolo “meu rockzinho antigo” a fim de estrangular a burocracia.

“Ói, ói o trem, vem surgindo de trás das montanhas azuis, olha o trem...” Canto para uma audiência silenciosa: grampeadores, impressoras, scanners, computadores, carimbos, para o tucano do calendário que me fita de um jeito cínico. Minha voz ricocheteia nas paredes: me dou conta que tropeço nalguns versos, e ainda desafino. Talvez a apatia da audiência venha daí...

         Carente de trens e montanhas azuis, arrasto a tarde entre prazos preclusos e pilhas de urgências, suportando a incompreensão das canetas... bem-te-vi... ói, ói o trem... bem-te-vi... o trem... assim, burocraticamente, risco mais um dia no calendário.  




Texto: Raphael Cerqueira Silva 

Foto: acervo do autor 

domingo, 25 de abril de 2021

O caminhão da Coca-cola


   Esfriou na noite passada. Noite desestrelada, escura escuridão. Não pensei que o sol viesse flanar pela manhã... Nos cantos da casa, contudo, há frio e um futum de mofo que ainda não identifiquei suas danadas origens.

    Hoje eu poderia escrever sobre a política e a CPI na Câmara; sobre a economia que, como Sá Marina, vai descendo a rua da ladeira; falar do BBB, das partidas de buraco que sucessivamente perco para os robôs da internet, do Rambo II que assisti pela quinquagésima quarta vez... poderia versejar sobre a lassidão deste abril, talvez comentar as contradições humanas que desfilaram ante meus olhos angustiados durante a semana, ou resenhar sobre a travessia que fiz ao lado de Riobaldo no grande sertão.

   O sol embeleza, mas não acalenta. O caminhão da Coca-Cola parado na rua traz à boca o sabor da infância: pastel de queijo com Coca no bar do Hebinho; pizza com muito catchup e Coca nos sábados à noite; Skiny, Coca e sofá para assistir ao Vale a Pena Ver de Novo; pão com presunto e Coca para merendar no recreio... O caminhão resgata um tempo que, sem querer querendo, atravessei. E, como o grande sertão de Rosa, se perdeu, perdido empoeirado, na memória do meu humano ser. Neste caminho árido e aventuroso, a travessia é dificultosa, de vela e saudade, de choros e alegria....

     Viver é perigoso: diz não diz o vento nas veredas do sertão. Falando em vento, acho que a noite vai ser fria, de novo. 




Texto: Raphael Cerqueira Silva 
Foto: acervo do autor 

segunda-feira, 19 de abril de 2021

SÃO MOMENTOS QUE EU NÃO ME ESQUECI


     Roberto Carlos completa 80 anos. Parece que foi ontem que eu assisti ao Globo Repórter em homenagem aos seus cinquenta anos de idade... ou a transmissão ao vivo do show no Maracanã para celebrar seus cinquenta anos de carreira. Oitenta anos do homem que fez da voz o instrumento para cantar o amor. É difícil escrever sobre quem se admira. Dizer que sou fã do Roberto é pouco. “Eu passei por cada dia da semana” pensando em como elaborar um texto fora das obviedades, afinal, os jornais, sites e programas da tevê vão homenageá-lo. O que dizer, então? Tomo emprestado o título de uma de suas canções e, de coração pra coração, escrevo esta crônica-memória. A seguir, alguns momentos meus com o Roberto. Crônica composta de fragmentos. Crônica flashback. Crônica homenagem. Não importa o rótulo. O importante é que foi escrita de fã para ídolo.  

A lembrança mais antiga que guardo do Roberto: o dueto em “É tão lindo”, faixa que abre o álbum de 1984 do Balão Mágico. Ah, como esse disco girou no CCE da sala e encheu de versos e melodias meus sonhos de menino... Pouco depois, uma viagem ao Rio; no Chevette branco, madrugada ainda, o Rei cantava Caminhoneiro... na varanda, a mãe acenava.

       Em casa, o pai guardava na estante da sala o porta-LPs: inacessível às minhas mãos curiosas (“não pode mexer: quebra, arranha”). Dentro, os álbuns do Roberto. Nas férias, enquanto os caminhões na Rio-Bahia retardavam a viagem, as k-7 iam e vinham dentro do porta-luvas acompanhando as curvas e os buracos da estrada e suas canções preenchiam de amor o silêncio no carro. Recordação televisiva: o Rei no programa da Xuxa; não me lembro se no Xou das manhãs ou no especial de Natal da Rainha... em dueto, uma mensagem de fé e esperança.

Numa tarde ensolarada, voltando de Ponte Nova, o toca-fitas repetia e repetia o álbum de 1993. Pelejei para entender os versos de “Mis Amores”, faixa que encerra o disco; consegui, por outro lado, decorar toda a letra de Nossa Senhora, esta oração em forma de canção. Tempos depois, a professora indagava qual meu cantor favorito: recortei a capa daquela fita e colei no caderno. O caderno se perdeu... a embalagem plástica da fita ficou sem o rosto do Roberto.

        Ah, as manhãs de verão... carne na churrasqueira improvisada com tijolinhos, diversão na piscina de plástico e, à sombra, o aparelho portátil tocava as músicas do Roberto... Por volta dos doze anos aprendi a manusear um CD. O disco de 1994 entre os dedos e a advertência no ar: “cuidado, é caro; se arranhar não toca mais”. “O Taxista” enchia a sala; no sofá, eu tentava imaginar o CD girando na gaveta do Sharp 3 em 1 e um tal de laser tomando o lugar da agulha do CCE. O primeiro videocassete, as VHS virgens trazidas do Paraguai para eu gravar desenhos, as participações do Roberto nos programas da TV (no Sílvio Santos, Faustão, Video-Show...) e, claro, os especiais de fim de ano. Em dezembro, eu contava os dias, as horas para gravar o especial RC. Ao longo do ano, os revia nas tardes ociosas enquanto desenhava.

     O tempo passou... cada centavo conquistado na faculdade com digitações e revisões de textos servia para comprar um disco. Aos poucos, completei a coleção de CD’s e DVD’s... Em BH, seis dias de curso; nas noites solitárias do hotel, as canções do Roberto me acalentavam. Na volta, o Pássaro Verde varava a madrugada; no discman só tocava o Rei. Os discos guardados na mochila foram minha companhia.

      O primeiro show em 2004: inesquecível presente de aniversário. Para o segundo, economizei o salario para pagar ingresso, viagem e hospedagem em Cachoeiro de Itapemirim. Coração acelerado para o primeiro show da turnê de 50 anos de carreira do Roberto. Tempos depois, em Brasília, a concretização de um sonho: recebi de suas mãos a rosa vermelha.

      O tempo passou mais um pouco. A tecnologia avançou. Roberto continua sendo minha trilha sonora. Em casa, sua palavra de força, de fé e de carinho me ajuda a atravessar a pandemia. No trabalho, sua voz me conduz pelas tardes burocráticas. Enquanto escrevo minhas reminiscências e ficções, ouço-o no Spotify. E movido por uma força estranha que paira no ar, brado: Viva Roberto Carlos!!! 







Texto: Raphael Cerqueira Silva 

Foto: acervo do autor 

domingo, 18 de abril de 2021

CASINHA BRANCA À BEIRA DA ESTRADA


      Livros são trampolins para histórias diversas, sem fim. Com um salto, o leitor mergulha em universos paralelos; na velocidade do faz-de-conta cruza o mar dos piratas, viaja ao céu e ao país das fábulas, regressa aos tempos mitológicos sem se esquecer das cantigas de roda e da amarelinha. O leitor pisca: reina ao lado do saci; pisca de novo: visita as cortes de princesas encantadas; piscou-piscou: aprende que, para qualquer vivente falar feito gente grande, basta tomar as pílulas do doutor Caramujo.

         No mundo há um lugar onde bonecas, sabugos de milho e leitões têm títulos de nobreza; onde uma menina morena como o jambo e do narizinho arrebitado se casou com um príncipe peixe; e um valente menino, que só tem medo de vespas, se recusa a crescer tal como Peter Pan. Para este sítio correm os personagens da carochinha, das mil e uma noites, dos contos de Grimm e Perrault sedentos por novas aventuras. De trem ou charrete, a pé ou sorvendo pó de pirlimpimpim, na Hiena dos Mares ou no Pégaso, chega-se àquela casinha branca à beira da estrada. Onde, “na varanda, de cestinha de costura ao colo e óculos de ouro na ponta do nariz” vive “a mais feliz das vovós”. Nesse rincão encantado cortado por um riachinho (portal para o Reino das Águas Claras) há espaço para o sonho.

         O leitor, ao ouvir os serões da bondosa vovó ou os causos da mais prendada das cozinheiras, aprende a valorizar o poder do sonho. E sonhar, como certo alguém já o disse (e se não o disse, fica valendo como dito) é essencial ao viver. Assim é o Picapau Amarelo: parada obrigatória para a fantasia, a aventura, o sonho. Refúgio para todos que acreditam ser a vida um pisca-pisca. E, por isso, se recusam a abandonar o faz de conta.

      Os livros de Monteiro Lobato (1882-1948) mostram que não é preciso muito para ser feliz: basta ter imaginação. À luz do lampião, enquanto os grilos cricrilam lá fora e o cheiro de bolinho e pipoca espalha-se pela casa, sentado ao lado da Emília o leitor descobre o segredo da liberdade. E ser livre é ser feliz.

         No dia do nascimento de Lobato e dia nacional do livro infantil, a crônica de um menino que se sentou ao lado da Marquesa de Rabicó, tomou emprestada a cartola do Visconde e, do sítio, jamais saiu. 


Texto: Raphael Cerqueira Silva 

Foto: Museu Monteiro Lobato/Taubaté (fonte: Google imagens) 

quinta-feira, 15 de abril de 2021

À ESPERA


    Andejo. Assim é o cronista. Que precisa andar pela cidade, ouvir o padeiro, o quitandeiro, o apontador do bicho, a balconista, os lamentos daqueles que perderam outra causa; ver a briga no trânsito, a juventude voltando trôpega da balada... A vida pulsa nas ruas e essa pulsação precisa ser sentida e absorvida pelo cronista. Daí Antônio Cândido considerá-lo o cão farejador do cotidiano.

      Contudo, em tempos de lockdown e toques de recolher, me pergunto: por onde andar. Impedido de exercitar meu lado andarilho, escrevo sobre o cotidiano doméstico, “a dor e a delícia” de viver confinado em um quarto no quarto andar.

      Para Xico Sá, a crônica “dá conta das miudezas da vida em comum”. Enquanto espero o entardecer e o repicar dos sinos na São João Batista, olho à janela. Não me faltam as palavras, falta-me o som das ruas... aflito, garatujo outras idiossincrasias no caderno já cansado de tanto palavrório.

    E daí? ecoa o brado retumbante na caserna do planalto central. Cansado, continuo a escrever. E a esperar. 




Texto: Raphael Cerqueira Silva 
Foto: acervo do autor 

domingo, 11 de abril de 2021

PÁGINAS ABERTAS


O dia se arrastava. Desatento, eu lia revistinha na varanda. As ruas continuavam silenciadas: novo decreto entrara em vigor. Indiferente aos comandos normativos, o cão da vizinha ladrava como um danado. Fevereiro, sempre propício a nostalgias, me fez recordar outras tardes ensolaradas. No ano em que Momo não pôde botar seu bloco na rua, minhas memórias desembestaram para outros carnavais.

No entorno da Raul Soares, entre risos e gritinhos de satisfação, a molecada corria. Enorme e desengonçada, os braços esticados à frente feito a cuca, Maria Pereira chispava atrás. Os mais arteiros puxavam sua saia estampada revelando, por instantes, o rapaz de short e camiseta que manipulava a boneca. Da calçada do Bradesco, eu observava a criatura girando, girando, indo e vindo... quase esbarrava nos galhos desnudos do ipê da praça, na amendoeira que sombreava a banca de jornal.

Sem tirar os olhos da Maria, eu chupava picolé. Na mente rodopiava a história que ouvira dias antes. Ao sair da padaria, vi um homem e um menino de mãos dadas. Tinha mais ou menos a minha idade, comia Surpresa e olhava para a direção em que o homem apontava. “Lá, naquela casa roxa de janelas amarelas, mora a mãe da Maria Pereira”. Talvez para refrescar a memória do menino, arrematou: aquela boneca que só sai de casa no carnaval. Eu conhecia a senhora que morava do outro lado da rua; contudo, até então ignorava que ela concebera uma boneca de pano, tal como fizera tia Nastácia. Fiquei encucado: gente de carne, osso e cabelos brancos podia ser mãe de boneca, ainda mais boneca gigante, de cabeleira colorida, que saía apenas no carnaval para correr atrás da criançada e rodar a longa saia? Minha cabeça girou como lápis no apontador... até esqueci de comer meu Skiny.

Enquanto os meninos corriam na praça e tropeçavam nos paralelepípedos, aquela questão voltou a martelar meu pensamento. Encantado, eu matutava... O picolé derretia; um pingo travesso pingou no meu pé. A cabeçorra da Maria Pereira ultrapassava a fiação dos postes, parecia tocar o céu. Outro pingo; desta vez caiu no matinho que crescia no meio-fio. Maria corria em frente à papelaria da Odila; os meninos insistiam em puxar sua saia; os medrosos ficavam nos bancos da praça escancarando as janelinhas, comendo pipoca, soprando bolas de chiclete...

Perdi o rumo das lembranças quando uma moto rasgou o silêncio da tarde. O sino da Santo Antônio marcava o tempo, o vento brincava na árvore da escola e, no chão, a revistinha jazia com as páginas abertas.  


*Agradeço ao Centro Cultural de São Geraldo que, gentilmente, me enviou a foto abaixo. 





Texto: Raphael Cerqueira Silva 

Foto: acervo do Centro Cultural de São Geraldo/MG

quinta-feira, 8 de abril de 2021

Em casa


Sobre a mesa, R$24,00 trocados para pagar o moço do queijo. Em volta, e até no chão, restos da borracha que ainda a pouco apagou bobagens sentimentais. Quase todo dia me lembro do Patralhão: baboseira, baboseira, baboseira... é só o que escrevo ultimamente. Resultado de um coração em frangalhos. Pandemia, home-office, obituários, outono...

Nada anda: o computador tropeça na memória abarrotada de arquivos inúteis, o sistema cai – por consequência, a produtividade. A internet, como o bêbado equilibrista da canção, vai-não-vai; fico sem saber onde estou.

O canto de Maria ecoa pela casa. No vizinho, alguém fura a parede. Segundo o infalível D.I.V.A (Departamento de Investigação da Vida Alheia), estão instalando internet. A dúvida paira no ar, densa e incômoda como as fumaças de agosto: como ele conseguiu viver até agora sem internet?! Em breve, os agentes infiltrados do D.I.V.A hão de descobrir...

A brisa não refresca o início de abril. O caminhão do Abacatinho por pouco não se choca com o táxi que entrou na contramão. Sem recôncavos e reconvexos, arrasto o viver esperando, ao menos, concluir o alvará que, pela terceira vez, um chatonildo me pediu pelo WhatsApp.   








Texto: Raphael Cerqueira Silva 
Foto: acervo do autor 

 

domingo, 4 de abril de 2021

Eduardo Marciano, a falta do pão de cada dia e otras cositas más


         Semana de feriadão. Sim, eu sei que é estranho falar em feriadão quando passamos todos os dias em casa. Em tempos de pandemia, quando os dias – e, por conseguinte, as noites - são todos iguais, feriadão é feito olho azul em gente feia. Mas, apesar da inutilidade, oficialmente meu feriadão começou na quarta-feira.

       Quarta-feira que, noutros tempos, teria a Procissão do Encontro. Mas, em tempos de restrição à circulação de pessoas, os fiéis não puderam ver o tradicional encontro de Maria e Jesus. Assim como no ano passado. Apenas soaram os sinos na matriz. Ou isso foi na noite de quinta? Vai saber, já que tudo parece tão igual...

Mas na quarta, enquanto a maioria estava reclusa, teve gente ousada batendo perna – e continência – por aí. Vestidas de patriotismo, essa gente de bem saiu às ruas em grupinhos, tipo aqueles que a molecada formava depois da aula para tocar campainha, implicar com o nerd da sala, azucrinar a vizinhança... reunida, essa brava gente tomou ruas e praças para comemorar os 57 anos da ditadura militar (ops, movimento revolucionário, para usar o jargão daqueles cidadãos de bem). Se vivo, tenho certeza que Simão Bacamarte os levaria para uma temporada na Casa Verde. Eu até pensei em escrever uma carta para Gotham City e solicitar ao Batman que levasse esses cidadãos de bem para uma visitinha ao Arkham... mas impedido de sair de casa sequer para postar uma mísera carta, posterguei meu intento para ano que vem.

       Na quinta, depois de ver mais uma crônica minha publicada na revista Vicejar, sentei à varanda para um encontro marcado. Com o Sabino nas mãos, me perdi nas desventuras e angústias de Eduardo Marciano. Um livro de muitos encontros em bares, de desencontros em festinhas regadas a bebida e otras cositas más nos apês do Rio, com gente zanzando livre, leve e bêbeda pelas ruas de BH, com longas viagens de trem pelas serras de Minas... confesso que em tempos de isolamento me incomoda ver tanto movimento ao ar livre, tanta gente reunida. Não direi que me dá nostalgia, porque não posso sentir falta do que não vivi, isto é, da vida noturna e boêmia que Marciano, Hugo e Mauro levam em Belô. Mas, a seguir a risca o que diz outro personagem do livro é possível, sim, sentir falta do que não se viveu... melhor deixar pra lá, antes que isso aqui vire uma palestra do Karnal.

         Começaram a vacinar a turma dos sessenta e poucos anos, mas na sexta já circulava uma postagem da prefeitura suspendendo a vacinação agendada para o sábado. O motivo: falta de vacinas. No DF, um comandante da PM furou fila para ser vacinado; na cidade natal de Marciano, uma falsa enfermeira vendeu vacina igualmente falsa para empresários e, por aqui, não pudemos comprar pão. Segundo o decreto vindo lá das alterosas, e ratificado no Paço Municipal, padarias não podem abrir. Ficamos, assim, sem o pão nosso de cada dia na sexta, no sábado e hoje. Por isso, se a crônica lhe soa longa, querido leitor, é porque este que vos escreve tem fome; e, na ausência de pão, tenta se alimentar de palavras. Se Darwin estava certo, caminhamos para um novo estágio da evolução... vem aí, o homem devorador de letras. Aguardem.

         O Prata dedicou a crônica deste domingo aos fungos. Confesso que me deu uma fominha... daí passei para a coluna da Fernandinha Torres. Coitada, anda ressentida com certo Hildebrando que lhe escreve ofensas. Enquanto uns evoluem, a maioria “involuiu”, querida. Já me acostumei com essas criaturas: ao longo da semana tive vários comentários atacados por essa turba... Penso até que são os mesmos que, ainda outro dia, saudaram uma enorme caixa de cloroquina, fizeram loas aos generais da ditadura, embarcaram na canoa furada de um certo mito e que, um pouco antes, gritaram “tchau querida” abraçados a um pato horrendamente amarelo na Augusta... É, acho que vou ter que enfrentar a fila do correio e postar a cartinha pro Batman. Não vai ter jeito. 






Texto: Raphael Cerqueira Silva 
Foto: acervo do autor (Visconde do Rio Branco, MG) 

Madonna in Rio

            A Rainha do pop está entre nós. Ou melhor, em terras brasilis, desfrutando a brisa que assanha os cabelos das meninas e o corp...