segunda-feira, 19 de abril de 2021

SÃO MOMENTOS QUE EU NÃO ME ESQUECI


     Roberto Carlos completa 80 anos. Parece que foi ontem que eu assisti ao Globo Repórter em homenagem aos seus cinquenta anos de idade... ou a transmissão ao vivo do show no Maracanã para celebrar seus cinquenta anos de carreira. Oitenta anos do homem que fez da voz o instrumento para cantar o amor. É difícil escrever sobre quem se admira. Dizer que sou fã do Roberto é pouco. “Eu passei por cada dia da semana” pensando em como elaborar um texto fora das obviedades, afinal, os jornais, sites e programas da tevê vão homenageá-lo. O que dizer, então? Tomo emprestado o título de uma de suas canções e, de coração pra coração, escrevo esta crônica-memória. A seguir, alguns momentos meus com o Roberto. Crônica composta de fragmentos. Crônica flashback. Crônica homenagem. Não importa o rótulo. O importante é que foi escrita de fã para ídolo.  

A lembrança mais antiga que guardo do Roberto: o dueto em “É tão lindo”, faixa que abre o álbum de 1984 do Balão Mágico. Ah, como esse disco girou no CCE da sala e encheu de versos e melodias meus sonhos de menino... Pouco depois, uma viagem ao Rio; no Chevette branco, madrugada ainda, o Rei cantava Caminhoneiro... na varanda, a mãe acenava.

       Em casa, o pai guardava na estante da sala o porta-LPs: inacessível às minhas mãos curiosas (“não pode mexer: quebra, arranha”). Dentro, os álbuns do Roberto. Nas férias, enquanto os caminhões na Rio-Bahia retardavam a viagem, as k-7 iam e vinham dentro do porta-luvas acompanhando as curvas e os buracos da estrada e suas canções preenchiam de amor o silêncio no carro. Recordação televisiva: o Rei no programa da Xuxa; não me lembro se no Xou das manhãs ou no especial de Natal da Rainha... em dueto, uma mensagem de fé e esperança.

Numa tarde ensolarada, voltando de Ponte Nova, o toca-fitas repetia e repetia o álbum de 1993. Pelejei para entender os versos de “Mis Amores”, faixa que encerra o disco; consegui, por outro lado, decorar toda a letra de Nossa Senhora, esta oração em forma de canção. Tempos depois, a professora indagava qual meu cantor favorito: recortei a capa daquela fita e colei no caderno. O caderno se perdeu... a embalagem plástica da fita ficou sem o rosto do Roberto.

        Ah, as manhãs de verão... carne na churrasqueira improvisada com tijolinhos, diversão na piscina de plástico e, à sombra, o aparelho portátil tocava as músicas do Roberto... Por volta dos doze anos aprendi a manusear um CD. O disco de 1994 entre os dedos e a advertência no ar: “cuidado, é caro; se arranhar não toca mais”. “O Taxista” enchia a sala; no sofá, eu tentava imaginar o CD girando na gaveta do Sharp 3 em 1 e um tal de laser tomando o lugar da agulha do CCE. O primeiro videocassete, as VHS virgens trazidas do Paraguai para eu gravar desenhos, as participações do Roberto nos programas da TV (no Sílvio Santos, Faustão, Video-Show...) e, claro, os especiais de fim de ano. Em dezembro, eu contava os dias, as horas para gravar o especial RC. Ao longo do ano, os revia nas tardes ociosas enquanto desenhava.

     O tempo passou... cada centavo conquistado na faculdade com digitações e revisões de textos servia para comprar um disco. Aos poucos, completei a coleção de CD’s e DVD’s... Em BH, seis dias de curso; nas noites solitárias do hotel, as canções do Roberto me acalentavam. Na volta, o Pássaro Verde varava a madrugada; no discman só tocava o Rei. Os discos guardados na mochila foram minha companhia.

      O primeiro show em 2004: inesquecível presente de aniversário. Para o segundo, economizei o salario para pagar ingresso, viagem e hospedagem em Cachoeiro de Itapemirim. Coração acelerado para o primeiro show da turnê de 50 anos de carreira do Roberto. Tempos depois, em Brasília, a concretização de um sonho: recebi de suas mãos a rosa vermelha.

      O tempo passou mais um pouco. A tecnologia avançou. Roberto continua sendo minha trilha sonora. Em casa, sua palavra de força, de fé e de carinho me ajuda a atravessar a pandemia. No trabalho, sua voz me conduz pelas tardes burocráticas. Enquanto escrevo minhas reminiscências e ficções, ouço-o no Spotify. E movido por uma força estranha que paira no ar, brado: Viva Roberto Carlos!!! 







Texto: Raphael Cerqueira Silva 

Foto: acervo do autor 

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