Roberto Carlos completa 80 anos. Parece
que foi ontem que eu assisti ao Globo Repórter em homenagem aos seus cinquenta
anos de idade... ou a transmissão ao vivo do show no Maracanã para celebrar seus
cinquenta anos de carreira. Oitenta anos do homem que fez da voz o instrumento
para cantar o amor. É difícil escrever sobre quem se admira. Dizer que sou fã
do Roberto é pouco. “Eu passei por cada dia da semana” pensando em como
elaborar um texto fora das obviedades, afinal, os jornais, sites e programas da
tevê vão homenageá-lo. O que dizer, então? Tomo emprestado o título de uma de
suas canções e, de coração pra coração, escrevo esta crônica-memória. A seguir,
alguns momentos meus com o Roberto. Crônica composta de fragmentos. Crônica
flashback. Crônica homenagem. Não importa o rótulo. O importante é que foi
escrita de fã para ídolo.
A lembrança mais antiga que guardo
do Roberto: o dueto em “É tão lindo”, faixa que abre o álbum de 1984 do Balão
Mágico. Ah, como esse disco girou no CCE da sala e encheu de versos e melodias
meus sonhos de menino... Pouco depois, uma viagem ao Rio; no Chevette branco,
madrugada ainda, o Rei cantava Caminhoneiro... na varanda, a mãe acenava.
Em casa, o pai guardava na estante da
sala o porta-LPs: inacessível às minhas mãos curiosas (“não pode mexer: quebra,
arranha”). Dentro, os álbuns do Roberto. Nas férias, enquanto os caminhões na
Rio-Bahia retardavam a viagem, as k-7 iam e vinham dentro do porta-luvas acompanhando
as curvas e os buracos da estrada e suas canções preenchiam de amor o silêncio
no carro. Recordação televisiva: o Rei no programa da Xuxa; não me lembro se no
Xou das manhãs ou no especial de
Natal da Rainha... em dueto, uma mensagem de fé e esperança.
Numa tarde ensolarada, voltando de Ponte Nova,
o toca-fitas repetia e repetia o álbum de 1993. Pelejei para entender os versos
de “Mis Amores”, faixa que encerra o disco; consegui, por outro lado, decorar
toda a letra de Nossa Senhora, esta oração em forma de canção. Tempos depois, a
professora indagava qual meu cantor favorito: recortei a capa daquela fita e colei
no caderno. O caderno se perdeu... a embalagem plástica da fita ficou sem o
rosto do Roberto.
Ah, as manhãs de verão... carne na
churrasqueira improvisada com tijolinhos, diversão na piscina de plástico e, à
sombra, o aparelho portátil tocava as músicas do Roberto... Por volta dos doze
anos aprendi a manusear um CD. O disco de 1994 entre os dedos e a advertência
no ar: “cuidado, é caro; se arranhar não toca mais”. “O Taxista”
enchia a sala; no sofá, eu tentava imaginar o CD girando na gaveta do Sharp 3
em 1 e um tal de laser tomando o lugar da agulha do CCE. O primeiro
videocassete, as VHS virgens trazidas do Paraguai para eu gravar desenhos, as
participações do Roberto nos programas da TV (no Sílvio Santos, Faustão, Video-Show...)
e, claro, os especiais de fim de ano. Em dezembro, eu contava os dias, as horas
para gravar o especial RC. Ao longo do ano, os revia nas tardes ociosas
enquanto desenhava.
O tempo passou... cada centavo conquistado
na faculdade com digitações e revisões de textos servia para comprar um disco.
Aos poucos, completei a coleção de CD’s e DVD’s... Em BH, seis dias de curso;
nas noites solitárias do hotel, as canções do Roberto me acalentavam. Na volta,
o Pássaro Verde varava a madrugada; no discman só tocava o Rei. Os discos
guardados na mochila foram minha companhia.
O primeiro show em 2004: inesquecível
presente de aniversário. Para o segundo, economizei o salario para pagar
ingresso, viagem e hospedagem em Cachoeiro de Itapemirim. Coração acelerado
para o primeiro show da turnê de 50 anos de carreira do Roberto. Tempos depois,
em Brasília, a concretização de um sonho: recebi de suas mãos a rosa vermelha.
O tempo passou mais um pouco. A
tecnologia avançou. Roberto continua sendo minha trilha sonora. Em casa, sua
palavra de força, de fé e de carinho me ajuda a atravessar a pandemia. No
trabalho, sua voz me conduz pelas tardes burocráticas. Enquanto escrevo minhas
reminiscências e ficções, ouço-o no Spotify. E movido por uma força estranha que
paira no ar, brado: Viva Roberto Carlos!!!
Nenhum comentário:
Postar um comentário