Livros são trampolins para histórias
diversas, sem fim. Com um salto, o leitor mergulha em universos paralelos; na
velocidade do faz-de-conta cruza o mar dos piratas, viaja ao céu e ao país das
fábulas, regressa aos tempos mitológicos sem se esquecer das cantigas de roda e
da amarelinha. O leitor pisca: reina ao lado do saci; pisca de novo: visita as
cortes de princesas encantadas; piscou-piscou: aprende que, para qualquer vivente
falar feito gente grande, basta tomar as pílulas do doutor Caramujo.
No mundo há um lugar onde bonecas,
sabugos de milho e leitões têm títulos de nobreza; onde uma menina morena como
o jambo e do narizinho arrebitado se casou com um príncipe peixe; e um valente menino, que só tem medo de vespas, se recusa a crescer tal como Peter Pan. Para
este sítio correm os personagens da carochinha, das mil e uma noites, dos
contos de Grimm e Perrault sedentos por novas aventuras. De trem ou charrete, a
pé ou sorvendo pó de pirlimpimpim, na Hiena dos Mares ou no Pégaso, chega-se àquela casinha branca à beira da
estrada. Onde, “na varanda, de cestinha de costura ao colo e óculos de ouro na
ponta do nariz” vive “a mais feliz das vovós”. Nesse rincão encantado cortado
por um riachinho (portal para o Reino das Águas Claras) há espaço para o sonho.
O leitor, ao ouvir os serões da bondosa
vovó ou os causos da mais prendada das cozinheiras, aprende a valorizar o poder
do sonho. E sonhar, como certo alguém já o disse (e se não o disse, fica
valendo como dito) é essencial ao viver. Assim é o Picapau Amarelo: parada obrigatória
para a fantasia, a aventura, o sonho. Refúgio para todos que acreditam ser a
vida um pisca-pisca. E, por isso, se recusam a abandonar o faz de conta.
Os livros de Monteiro Lobato (1882-1948)
mostram que não é preciso muito para ser feliz: basta ter imaginação. À luz do lampião,
enquanto os grilos cricrilam lá fora e o cheiro de bolinho e pipoca espalha-se
pela casa, sentado ao lado da Emília o leitor descobre o segredo da liberdade.
E ser livre é ser feliz.
No dia do nascimento de Lobato e dia nacional
do livro infantil, a crônica de um menino que se sentou ao lado da Marquesa de
Rabicó, tomou emprestada a cartola do Visconde e, do sítio, jamais saiu.
Texto: Raphael Cerqueira Silva
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