Ontem (12/12) foi dia de apagar noventa velinhas. Sim, noventa. Senor Abravanel, o nosso Silvio Santos, comemorou noventa primaveras. Sílvio atravessou gerações. Do rádio, migrou para a televisão ainda nos tempos do preto e branco. Disse, certa vez: perdera a vaga de locutor para Chico Anysio, felizmente. Chico foi desenvolver seu humor no rádio e Sílvio levou seus programas à televisão. Ganhamos nós, que o acompanhamos ao longo de décadas.
Quem foi
criança nos anos 1980 e 1990 passou boas e divertidas horas na frente do
televisor. Que menino não sonhou abrir as portas da esperança ou pegar um aviãozinho
de dinheiro no Topa Tudo? Que não quis
sentar no auditório do Seu Sílvio, rir das câmeras escondidas e tentar ver o
rosto do Lombardi? E quem não sonhou rodar o pião do Baú da felicidade? Esses
desejos – que não eram apenas infantis – encantavam as tardes e noites dos
domingos.
Começava assim:
por volta do meio-dia, as colegas de auditório balançavam seus pompons
coloridos e entoavam o cântico (trilha sonora de muitas gerações) “Sílvio
Santos vem aí, Silvio Santos vem aí, lá rá lá rá”. Nos tempos do carnaval, a
garotada corríamos para a frente da TV para cantar junto com o patrão: a pipa
do vovô não sobe mais, ai bruxa vem aí, doutor eu não engano, meu coração é corintiano...
As marchinhas do Seu Sílvio embalaram
nossa folia.
Através do
canal do Sílvio, a TVS - futuro SBT -, conhecemos as novelas mexicanas. Lembro
que a primeira dessas novelas que eu assisti foi Rosa Selvagem, com Verônica
Castro. Depois, vieram Carrossel (marcou a geração anos 1990; ah que saudade da
professora Helena!), Chispita, Vovô e Eu (ah, como eu quis voar no balão com o
vovô e o Daniel) e as Marias de Thalia, sendo a Maria do Bairro minha preferida.
Impossível esquecer o Chaves e o Chapolin. Nosso Chavinho e sua vila, mais
brasileiro impossível. Sílvio trouxe também
para o Brasil o palhaço Bozo, alegria das manhãs e tardes dos anos 80 e 90.
Domingo no Parque, Qual é a Música, Hot Hot Hot, Tentação, Em Nome do Amor, Show de Calouros, Troféu Imprensa... horas e horas de diversão e alegria diante do televisor. Na sala, sozinho ou rodeado da família, em silêncio esperando o Sílvio. Bordões como “vai pra lá, vai pra lá”, “ma oe”, “e o Silvio Santos fala ou não fala”, “quem quer dinheiro”, “você topa ou não topa”, “ai ai ui ui” que repetíamos na escola, na rua, em casa. As perguntas do Show do Milhão aguçava nossa curiosidade e a vontade de pesquisar (numa época que consultar o Google era coisa de ficção científica, para nós dos tempos da internet discada).
Impossível esquecer as tardes alegres diante da TV vendo o Show de Calouros. Silvio e sua trupe me marcaram. Quem não se lembra da clássica música que anunciava a entrada dos jurados. O hilariante Sérgio Mallandro, o sisudo Pedro de Lara, a estonteante Sônia Lima, a beleza loira da Flor, Décio Piccinini, Leão Lobo, Wagner Montes... ah, tanta gente passou pelo tribunal do Show de Calouros e fez parte de minha vida.
Seu Sisi, nos últimos
tempos, fez escolhas políticas que me desagradaram. Aliou-se ao temeroso Temer,
ao inominável Mito. Mas isso não ofuscou o brilho do homem do baú. Perdeu pontinhos comigo. Deixei de vê-lo com
regularidade. Meus domingos ficaram vazios. Um vazio que a Netflix não preencheu.
Voltei a sintonizar o SBT.
Domingo é
sinônimo de diversão. Domingo é sinônimo de Sílvio Santos. “Agora é hora, de
alegria, vamos sorrir e cantar, do mundo não se leva nada, vamos sorrir e
cantar...”
Parabéns ao
Sílvio Santos! E que essa turbulência passe logo para voltarmos a vê-lo com
programas inéditos no ar.
Texto: Raphael Cerqueira Silva
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