O sol brilha a proximidade do verão. Sexta-feira, 19 de dezembro: para mim, o derradeiro dia útil do ano. A partir de segunda estarei em recesso e, felizmente, não trabalharei no plantão. O sol brilha a proximidade do verão. Uma crônica do Otto Lara para começar o dia. Agradeço à internet que me permite ler, em 2020, este texto escrito há quase trinta anos. Em 1991, o cronista se preocupava com os “graffiti” e os grafiteiros “que picharam a parede do meu escritório”. Ah, Otto, quem me dera ter hoje problemas dessa ordem... Mas em meio à pandemia, o que me inquieta é a COVID-19, esse mal que abalroou conceitos, modos de viver, trouxe demasiados desassossegos. E mortes. Os telejornais noticiam: passam de 184.000 as vidas ceifadas. Só no Brasil. Os dados mundiais eu nem quis ouvir. Perdemos a batalha para aquele que já é considerado o maior inimigo do século.
O sol continua a bailar no céu de parcas nuvens. Alguém comenta na GloboNews: estão vacinando grupos de pessoas na Europa. O sol brilha a proximidade do verão. Cá dentro, a esperança ressurge. Meio apática, reconheço. Ainda teme sair de casa, dobrar a esquina, descer a ladeira. Todavia, volta e meia aparece na janelinha do sótão. O sol brilha a proximidade do verão. E a esperança, em libras, parece anunciar: a vacina chegará.
Há palavras demais nos jornais, nas redes sociais. Angustiados, os brasileiros percorremos os dias quentes de dezembro. O sol brilha a proximidade do verão. E espero que o dia passe rápido. Que o recesso seja tranquilo. Que o Natal seja frugal. Que as pessoas não lotem meu WhatsApp com mensagens de boas festas e felicidades. Que o bom senso modere suas comemorações no réveillon (de preferência, que não comemorem). Que os grafiteiros continuem a pichar mensagens de gentileza e espalhem cor nos muros e nas paredes dos cronistas.
E viva o sol que, apesar de tudo, ainda brilha a proximidade do verão.
Texto: Raphael Cerqueira Silva
foto: Cabo Frio/RJ (acervo do autor)
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