Tornaram a
fechar a praça. À noite, enquanto eu compunha
um poema, vi pela janela as cercas metálicas instaladas no entorno da Praça 28.
Pela manhã, as boas e as más línguas comentavam a novidade no Facebook (essa
acrópole do mundo contemporâneo). Provavelmente a nova administração também a divulgou
em suas redes, sobretudo nos stories (essa
mania nacional). Há tempos somos governados, do Planalto aos Paços Municipais,
através de posts e twittadas.
Vieram-me à
lembrança os versos de Castro Alves: A
praça é do povo/Como o céu é do condor. Em tempos de peste, contudo, a
praça deixa de ser do povo conforme os interesses do vírus e de nossos doutos
gestores. Verdade verdadeira: nada é do povo porque, se se olhar direitinho, o
povo sequer existe. Povo é abstração. Ficção político-jurídica. Povo é palavra
qualquer a rolar na boca de mal intencionados, políticos e hipócritas de
palanque. Tal palavra ganha corpo somente para satisfazer interesses obscuros
de grupos que se revezam no poder. Por isso, nos discursos dessa gente o povo
é sempre os outros; ela nunca se inclui nesse rol porque precisa estar acima do
povo para, como César, ver e conquistar. Foi assim também na França de
Napoleão, no Reich de Hitler, na Cuba de Fidel, nas republiquetas de banana das
Américas.
Mas, voltemos
à Praça 28. Voltemos em pensamento, claro. Porque a praça, esse “antro onde a
liberdade/cria águias em seu calor”, está cercada e protegida como a Mona Lisa
no Louvre. Distante e sedutora, como o paraíso do Sr. Roarke do seriado A Ilha
da Fantasia. Inacessível, como a ambrosia do Olimpo. A praça, de novo, não é
mais do povo. “Desgraçada a populaça/Só tem a rua seu”. Donde estiver, me diga,
Sr. Castro Alves: quando a praça foi do povo?
Texto: Raphael Cerqueira Silva
foto: Praça 28 de Setembro, Visconde do Rio Branco (acervo do autor)
Parabéns
ResponderExcluirObrigado, Baltazar,pela leitura.
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