Senhor Engenheiro,
depois que construístes este prédio
nunca mais pude ver
a serra da Piedade
e aquela casinha caiada
perdida na imensidão vespertina.
Senhor Engenheiro,
depois que concretizastes vosso sonho
fiquei a imaginar as chuvas apressadas
descendo a serra
crianças de mochilas subindo as ladeiras,
o Cruzeiro iluminando-se ao anoitecer.
Senhor Engenheiro,
com vosso projeto dito progressista
cobristes com eterna sombra
os bancos e as calçadas da Praça
a piscina da vizinha,
meus obscenos sonhos de primavera.
Senhor Engenheiro,
quando cedestes ao chamado
do insensível capital
esquecestes que além de dígitos
contas bancárias
concreto e fama
alguém na janela
não veria mais os pombos
no telhado da Matriz
a banda passando no treze de maio
pela Floriano Peixoto
a chuva descendo nervosa
a Serra da Piedade.
Texto: Raphael Cerqueira Silva
Foto: acervo do autor
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