Dizem: o importante é competir. Em tempos de Olimpíadas (até a Praça 28 de Setembro se enfeitou com os anéis olímpicos) esse lema volta à moda. Como não entendo nada de esportes (fui daqueles alunos que odiava aulas de educação física), costumo competir noutra área.
Recentemente, me inscrevi em um concurso de poesia. Enviaram-me o edital pelo WhatsApp, me interessei e coloquei a cabeça para pensar. Tentei compor um poema cujo tema fosse “esperançar”, como exigiu o edital, que partiu da frase de Paulo Freire: “É preciso ter esperança, mas ter esperança do verbo esperançar; porque tem gente que tem esperança do verbo esperar. E esperança do verbo esperar não é esperança, é espera. Esperançar é se levantar, esperançar é ir atrás, esperançar é construir, esperançar é não desistir! Esperançar é levar adiante, esperançar é juntar-se com outros para fazer de outro modo...”. Pelejei, escrevi, reescrevi, rabisquei, cortei adjetivos e verbos, amassei um monte de papel... difícil para mim falar de esperançar, concluí. Primeiro, porque vivemos tempos áridos. E porque me dei conta que até hoje não li um parágrafo sequer de Paulo Freire. Só o conheço de citações que, volta e meia, passam pelo feed de minhas redes sociais.
Assim, foi muito atrevimento de minha parte escrever um poema – que por si só já é uma tarefa árdua – baseado em um autor que nunca li. E ainda por cima usar um verbo que, até ler o edital do concurso, eu desconhecia. Esperançar... palavra forte, incômoda, sobretudo para quem, como eu, apenas espera... Vivendo e aprendendo, como diria o outro.
Mas, como o importante é competir, este atrevido que vos escreve acabou produzindo um poeminha, e se inscreveu. Um poeminha meia boca, mequetrefe mesmo. Mambembe, seria assim chamado se ainda usassem esse termo... Os atrevidos e os competidores são assim: metem a cara, chutam pro gol e dane-se se vão pontuar. Como eu quero mais é botar meu bloco na rua, e não me importa o que vão pensar de mim, segue o poema “Esperançar” para a apreciação dos leitores:
O verbo esperançar
carrega consigo
a imensidão da utopia...
Paulo Freire o conjugou.
Vamos também?
O resultado do concurso saiu esta semana. Como esperado, não pontuei. Aliás, não é a primeira vez que passo longe da lista de classificados. Não me importo. Sigo o lema: o importante é competir.
Texto: Raphael Cerqueira Silva
Foto: acervo do autor
Uia...
ResponderExcluirRafael achei um parceiro.
Utópico, Mas verablizador.
Sigamos.
Sigamos, sempre.
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