No último final de semana, este cronista flanou pelas simpáticas ruas de Monte Verde. Se o leitor não conhece o distrito, vá visitá-lo. Apesar da distância (estará Monte Verde longe do cronista ou o cronista está longe de Monte Verde, eis a questão) sugiro a viagem.
Cerração caindo no final da tarde, silêncio e brisa. Da sacada com vista para o que restou da Serra da Mantiqueira, o cronista escrevia. Há viajantes que têm por companhia um cão, ou a solidão, ou o caloroso peito da amada... o cronista sempre faz-se acompanhar de um caderno e uma caneta. Quando esquece o caderno, xinga e esbraveja, acaba escrevendo em pedaços de papel higiênico. A caneta nunca esquece, pois em cada mala já fica guardada uma Bic... mas o leitor não quer saber desse papo de bastidores quer, na verdade, saber por quê o cronista empregou o verbo “restou” no início deste parágrafo.
Satisfaça, então, vossa curiosidade, ó inquieto leitor: nota-se das sacadas e janelas que ali também a vegetação original deu lugar à mata de eucaliptos... ah, e como é silencioso o batalhão de eucaliptos que vela Monte Verde. Apesar disso, o cronista se encantou com os papagaios que vieram tomar o desjejum na sacada: dispersas sobre o parapeito, lascas de mamão e sementes fizeram a alegria das avezinhas. Enquanto isso, o cronista se empanturrava de bolo... ah, como havia bolos nas manhãs: de laranja, coco, maçã, cenoura, chocolate, limão. O cronista, ao escrever, revela suas virtudes e seus – muitos – pecados; um desses é comer bolo. Não engorda de ruim, como já ouviu dizer...
Os papagaios comiam ruidosamente; não diferiam do povo no refeitório. Longe, dois esquilos subiam e desciam a árvore. O cronista não é botânico, anotou no caderno que se trata de uma conífera... circulou a palavra, ficou de pesquisar porque pareceu-lhe também um pinheiro, mas pode ser também uma araucária... Os esquilos continuaram a brincadeira, o cronista observou e fotografou-os. O sussurro do riacho e a brisa nas pétalas das hortênsias fizeram-no recordar as aulas de geografia.
Esta crônica deveria ter saído ontem. Contudo, falhas na conexão com a internet não permitiram. Aliás, não houve falhas; na verdade, faltou conexão no hotel. O cronista teve que rebolar para conseguir um mísero sinal para xeretar as redes sociais. Sem acesso à internet, escreveu suas bobajadas sentimentais no fiel caderninho. Aos poucos, vai postá-las.
Texto: Raphael Cerqueira Silva
Foto: acervo do autor
Crônica saudosista. Bem gostoso lê-la.
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