Abro minha caixa de e-mail. São 14:08 horas, de uma tarde ordinária, dessas bem burocráticas que nos arrasta junto com ofícios, alvarás e mandados. Mas, como eu dizia, abro minha caixa de e-mail: preciso solicitar qualquer coisa no portal da informática.
Chegou um desses e-mails que recebo aos montes, enviados por jornais e sites de entretenimento. Normalmente, não os abro; mas este aqui preciso abrir: MORRE O CANTOR E COMPOSITOR ERASMO CARLOS. Assim está grafada a matéria. Um soco em caixa alta, bem no meio do estômago, certeiro como aqueles que o Stallone dá nos filmes.
Aqui, no computador da repartição, não consigo abrir sites de noticiários, portanto, sou impedido de saber o que se passa no mundo. Isso pode ser bom ou ruim, depende do que está a acontecer; se eclodir uma guerra, por exemplo, só saberei quando chegar em casa, lá pelas seis e tanta (isso se eu chegar vivo, porque posso ser alvo de uma bomba qualquer enquanto caminho, vá saber). Assim, só fico sabendo das novidades quando abro algum desses e-mails que me chegam como mariposas no verão e leio suas manchetes. É o que faço agora.
Inevitavelmente meu lado nostálgico dispara - eu tenho um lado nostálgico que é, tipo, o lado B dos velhos discos: vive tocando e me levando a outras eras. A memória auditiva mais antiga que trago do Erasmo é a canção que ele gravou com a Turma do Balão Mágico: "barato bom barato bom é o da barata dona girafa que gravata..." esses versos tocaram tanto na vitrolinha lá de casa. Trilha sonora de infância marca, desperta-me a nostalgia. Outra canção me vem à mente: Papo de Esquina, que o Tremendão gravou em 1988 com seu irmão de fé Roberto Carlos, e que ouvíamos muito no toca-fitas do Chevette do pai.
Lá em casa também rodava bastante o "Erasmo... Convida", com duetos de velhas canções de sua autoria. Anos e anos depois, quando lançado o segundo volume (já nos tempos do CD) fiz questão de comprá-lo na pré-venda da internet. E eu o ouvi muito no meu discman, indo e voltando da faculdade... está guardadinho nalgum canto do meu quarto, junto com outros discos e dvds do Erasmo.
Essas memórias musicais são disparadas enquanto já nem me lembro mais por que abri a caixa de e-mail. Deixa pra lá, é de somenos importância. Decidido, volto a redigir os ofícios e as cartas, enquanto o Spotify, aleatoriamente, executa "Abra seus olhos". E os meus olhos, bem abertos, represam uma lágrima de despedida: "aqui não é lugar para sentimentalismos", sentencio a mim mesmo, antes que outros o façam.
Texto: Raphael Cerqueira Silva
Foto: internet
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