Ainda outro dia vimos manifestações verde-amarelas nas ruas,
praças e janelas. Saudosistas pseudopatriotas pediam, contrariando as
diretrizes da Razão e da História, o regresso da nação ao decantado paraíso
perdido das décadas de 1960/1970... esse oásis tão, tão remoto que no mercado
não se encontram mapas, bússolas, radares e GPS que nos conduza até lá.
Felizmente. Graças ao Deus Tempo ficou para trás. Que pena! suspiram aqueles
manifestantes (em geral, cidadãos de bem; gente de escol como se dizia no tempo
deles).
Mais recentemente, começaram a zanzar por aí pessoas
esclarecidas, seguidoras de um ex-astrólogo (hoje filósofo), bradando contra a
vacinação. Inevitável, pois, recordar os versos de Nando Reis: o que está
acontecendo?/o mundo está ao contrário e ninguém reparou. Tudo ficou de
ponta-cabeça, os absurdos tornaram-se aceitáveis. E não há como dialogar com
essa gente de bem, afinal, como naquela canção do Roberto, todos estão surdos.
Ensurdecidos e ensandecidos, prostram-se ante o Twitter e o Facebook, esses
irresistíveis titãs da nossa era.
Vão-se os anos... voltamos no tempo. Parece que regressamos a
1904, época de pestes, desordens e incompetências administrativas regadas a
café-com-leite. De repente, fomos expelidos por uma invenção mequetrefe do
Professor Pardal no centro do Rio de Janeiro. A capital desta republiqueta vive
em polvorosa contra a vacinação obrigatória promovida por Oswaldo Cruz.
Cruz-credo! nos persignamos enquanto erramos por ruas esburacadas, entre cortiços
em ruínas e bondes incendiados. Quero regressar a 2021! grita o camarada ao meu
lado.
Mas
será mesmo um bom negócio? Afinal, aqui temos também nossas pestes: COVID-19,
manifestantes pró-ditadura, terraplanistas, fake news, lockdown, toque de
recolher, um certo mito megalomaníaco... Alô, alô, Doutor Brown, me empresta o
De Lorean para eu voltar à barriga da minha mãe?
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