domingo, 2 de maio de 2021

O TEMPO

 

         Domingo cinzento. Friozinho e chuva para serenar os ânimos, repensar os difíceis tempos pandêmicos. Dias assim chamam nostalgia. Contudo, hoje não falarei sobre o passado, o quanto a velocidade do tempo me atordoa. Inquieto, muitas vezes recorro às palavras para entender a passagem do tempo. Todavia, é inútil. Por isso – e por ora – bastam estas linhas. Deixo o tic tac prosseguir, pois não é possível ouvir o tac tic...

           Neste domingo, escuro como o bolo de chocolate que fiz ontem, quero apenas ler o Antônio Prata. Não pensarei nas próximas eleições, na politicagem que corre solta - e sem máscara – nas ruas; basta de computar mortos e infectados, ansiar pela vacina que sabe-se lá quando chegará.

    Sirvo-me de outra fatia do bolo (acrescentar à massa uma colher de pó de café fez toda a diferença). Enquanto meus olhos correm pela Folha,  recordo as colunas do Cony e do Gullar que davam elegância às manhãs dominicais. Largo o jornal no braço do sofá: vou viajar no tempo e no espaço com a revista da Liga da Justiça que chegou anteontem. Nestes dias lentos, leio em outubro a edição de setembro, pois o correio ainda está em greve. Avante!

  A meta para esta semana é me afastar das banalidades facebookianas e dos instagramers; que são, infelizmente, a síntese do nosso tempo. Menos redes sociais: menos raiva e frustração. Lutarei como Space Ghost. Se vencerei, tenho dúvidas. Avante!

         Na cabeceira da cama, Suíte Tóquio pela metade. Deixarei para amanhã a leitura. Agora vou me enrolar no cobertor, embarcar na Enterprise com o Capitão Picard para desbravar o espaço e, quem sabe, vencer o tempo. Assim, o domingo viaja para o fim, e eu não vi o tempo passar. Amanhã é feriado: crianças abrirão presentes, o noticiário falará de mais mortes... não sei se a procissão da Padroeira passará na minha rua.

         O tempo levou o domingo, como os bueiros levam a chuva. O amanhã não será poupado também da tirania do tempo... olha eu pensando e escrevendo, de novo, sobre o tempo! Ciclicamente volto a este tópico que me angustia. Feito barata atordoada pelo Detefon ando, ando e paro no mesmo tema. Amanhã será um lindo dia, canta o poeta. Eu tenho cá minhas dúvidas...

 

*escrito em 11/10/2020 







 

Texto: Raphael Cerqueira Silva 
Foto: acervo do autor 

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